O luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre
uma pessoa e seu objeto, sendo um fenômeno mental natural e
constante durante o desenvolvimento humano; entretanto, a ideia de
luto ultrapassa o ato da morte, se relacionando com o enfrentamento
de sucessivas perdas reais e simbólicas durante o desenvolvimento
humano, podendo, portanto, ser vivenciado por meio de perdas que
perpassam pela dimensão física e psíquica como, por exemplo, perda
de elos significativos com aspectos pessoais, profissionais, sociais
e familiares do indivíduo.
Esse processo, para Freud (1917), é entendido como um processo natural instalado para a elaboração da perda, considerado lento e doloroso, e caracterizado por uma tristeza profunda, afastamento de toda atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, perda de interesse no mundo externo e incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor. Para o psicanalista, o luto pode ser superado após algum tempo e, mesmo que tenha um caráter patológico, não é considerada doença, logo, interferências tornam-se prejudiciais.
Para além, outros autores desenvolveram hipóteses explicativas acerca desse assunto. Abraham (1927) e Fenichel (1945) a pessoa que passa pelo processo de luto manifesta uma introjeção temporária da pessoa amada, originando um prolongamento da relação no tempo; já Deutsch (1937) traz a ideia que a ausência de luto pode ser indicador de uma psicopatologia, assim, o luto deve ser levado até o seu fim, uma vez que a relação de vinculação permanecerá enquanto o processo efetivo não for concluído; por fim, Pollock (1961) defende que o luto é uma resposta adaptativa à perda de uma pessoa querida que garante a sobrevivência diante à separação ou perda.
Na visão de Worden (1983) o luto deve ser concluído após passar por algumas fases, sendo elas: aceitar a realidade da perda, envolve a aceitação intelectual e emocional; experienciar e processar a dor, que implica o processamento da dor que, se não acontecer, o luto pode vir a manifestar-se sob a forma de um sintoma somático ou reaparecer após uma perda subsequente sob a forma de reação de luto retardado; adaptação ao ambiente, no qual a pessoa perdida já não está presente diz respeito à tomada de consciência progressiva das perdas assim como as adaptações às mesmas; e reinvestir noutras relações, para que o enlutado possa investir em novos relacionamentos, permitindo ajudar a pessoa que atravessa o processo de luto a continuar a sua vida após a perda.
Nos parâmetros de normalidade o luto se relaciona com o fato de a pessoa conseguir ultrapassar esse processo por meio da realização de tarefas diversas em um certo período de tempo, compreendendo uma primeira fase em que este experimenta sentimentos de choque, descrença e negação e uma fase seguinte que engloba um período de desconforto somático e emocional, terminando com uma fase de reconstituição. Em síntese, se essas fases não forem vivenciadas e ultrapassadas num determinado período de tempo pode vir a ter um luto patológico, caracterizado pela intensificação desse processo que origina um comportamento não adaptativo diante à perda, permanecendo em uma única fase e impedindo a sua progressão.